sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Reação...

Não quero ficar assim,
para sempre...
Gritaria ao corpo:
"Atenção! É hora de reagir!"
e isto, por si, já seria reação
mas, reação, é a última coisa
que encontraria, agora, em mim
Como mover-me?
queria encontrar
meu controle remoto
ou ser o artista, escondido,
que ministra os fios do boneco
do teatro de marionetes
Que leveza, a do boneco!
Que inveja dos seus movimentos!
Não são voluntários, mas move-se!
Não tem movimentos próprios,
reconheço,
mas tem quem o movimente!
E este é meu sonho
de consumo daquilo
que me consome
neste momento:
movimentar-me...
Não lamento isto
como o caos universal
ou como se fosse o mais
infeliz dos mortais.
Não posso dizer isso,
Deus não merece ouvir
isso
de mim,
porque tenho sorte,
alterno estados:
deito, levanto,
choro, me alegro,
calo, falo,
apaga-se a luz,
ascende-se a luz,
raciocino, travo,
movimento-me, paro,
sou um ser pensante,
sou uma ameba,
mas neste liga, desliga,
ascende, apaga,
tenho a felicidade de
poder viver, experimentar
momentos de alegria extrema
e doeu-me a consciência,
agora,
no meio deste
texto-lamento-poema-justificativa
reação-desejo de reação-divagação
ou sei lá, o que é
o que seja,
se é que é alguma coisa,
mas...
pelo menos estão vendo-me
de longe,
pensando que estou
trabalhando,
porque o barulho
dos dedos batendo
nas teclas
é alto, frenético,
sugere que
estou sendo produtivo,
o que é uma beleza.
Mas vão-se, assim,
os dedos,
bailando sobre o teclado,
porém, queria, mesmo,
era levantar-me...
doem-me as costas,
a coluna,
três horas e meia
sentado,
na mesma posição,
olhando para a tela,
olhos estalados,
dormência sem sono,
mente apagada,
e o gerente
do corpo, que,
coitado, ele mesmo
já velho e cansado,
doente, precisando de cuidados,
acordou com o sinal fraco
que veio pela rede neural
e, já (semi) acordado,
com recursos rudimentares,
imprimiu
um relatório meia-boca
e identificou o
(possível novo) problema:
dor na coluna cervical,
região lombar,
próximo a bacia.
E agora esse pobre
órgão chamado cérebro,
que já está até cinza,
coitado, de tão velho
(tudo bem, tudo bem,
sempre foi cinza,
mas agora está, pelo menos,
um pouquinho mais escuro,
pode ser...?)
nas pequenas pausas,
entre tosses e espasmos
de suas crises asmáticas,
sua voz rouca e cansada,
tenta mover o corpo
como um todo,
antes que o sinal de aviso
da coluna
torne-se um (novo)
mal irreversível.
E envia
seus comandos:
-"Corpo, mova-se...!"
-"Corpo, levante-se..(arfh..!) (cof!)(cof!)..."
-"Vá tomar uma água..!"
-"Vá ao sanitário, estique as pernas...(arfhh!)..."
Comandos...
bom.. (...)
valorizei muito
a boa vontade do cérebro
ao dizer que envia "comandos"...
pobre coitado,
não delega funções
pois já não manda: pede.
O tom de sua voz
não é de quem ordena,
mas pede favores,
suplica...
Bom... mesmo assim,
me vi feliz
no ato de escrever
tudo isso aqui,
porque vamos assim,
uma hora não vamos,
e outra hora vamos,
mesmo que no tranco,
e outra hora, ainda,
vamos como se
nunca tivéssemos
deixado de ir.
Mas posso dizer: sou feliz.
Pois lembrei-me nesta hora
dos deitados e/ou sentados
permanentemente,
dos que nunca levantaram-se
ou já andaram, mas, (clinicamente)
jamais andarão novamente...
e assistidos pela mão de terceiros
vão-se, quando muito,
empurrados ou empurrando-se
a si mesmos
em muletas
ou cadeiras-de-rodas.
Eu queria, agora, ser
um ser
abstrato
e poder encontrá-los,
ao mesmo tempo,
na beira de cada leito
e cobri-los, a todos, com um beijo
Mas...
não posso,
sou humano,
preso ao meu espaço,
preso ao meu tempo...
Mas, quem me dera...
que essa Áurea Celeste
que já me ouviu,
que estou sentindo-O tão
próximo de mim,
que já salvou-me tantas vezes...
possa encontrar, agora
e envolver
com seu amor,
cada um que traz
dentro de si,
um gemido,
mesmo que
contido,
calado,
escondido...
Já volto,
vou esticar as pernas e beber uma água...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Diagnóstico feito pelo rato de laboratório - Teoria aplicada a um caso real


Os nomes e identidades serão preservados, vou chamá-los de Senhor X e Senhora Y, mas o relato a seguir é sobre um caso real, algo que eu queria falar desde que criei este blog, mas não encontrava a forma, a maneira de expressar-me. Peço a atenção, principalmente dos familiares de pacientes bipolares.

GPS

De algum lugar que não vem ao caso, no Brasil, onde resido.


A visita

Certa manhã cheguei a casa de uma família que conheço já há um bom tempo, entrei a convite do meu amigo que recebeu-me como de costume, porém a sua esposa não respondeu minha saudação e retirou-se para outro local da casa.


Perfil do casal

Ele, o senhor X, mente sã, cheio de projetos, preocupado com sua carreira profissional.
Ela, a senhora Y, bipolar, crises constantes de depressão e pânico, tratamento interrompido para ajustes do orçamento doméstico.


O clima (aparente)

Enquanto conversávamos, ele manteve-se estável, tomamos café, falamos sobre projetos, mas, após alguns minutos de silêncio, ele disse-me que daria uma volta de carro pela cidade, se eu poderia acompanhá-lo, pois havia algo que queria falar-me.


O clima (real)

Após estacionar o veículo em um local tranquilo, confidenciou-me que havia discutido com sua mulher naquela noite, que não existiam mais condições de se relacionarem, arrumou suas malas durante a madrugada e avisou a mulher e os filhos que estava abandonando a casa, pegaria o carro com suas roupas e iria embora para a capital, visto que lá localizava-se seu local de trabalho atual. Aliás, já era uma rotina, pelo motivo de trabalho, ausentar-se da sua casa por três, quatro ou até cindo dias consecutivos por semana. Conversaram pela última vez antes de dormirem, acordaram os dois com o semblante fechado, tensos, ofendidos, sem se olharem nos olhos e sem dirigirem a palavra um ao outro em nenhum momento, ele resoluto a ir embora, ela resoluta em deixá-lo ir, tendo os dois encerrado o assunto, ele partiria naquela manhã, provavelmente já teria partido se eu não tivesse chegado logo cedo naquela casa.


Os motivos da separação anunciada

Ela é do contra, segundo ele, e vem sendo do contra há um bom tempo, nada a deixa feliz. Ela queria que ele saísse do antigo trabalho para voltarem a residir na capital. Quando ele finalmente demitiu-se do trabalho, ela se desesperou e discutiu dizendo que ele não poderia ter saído do trabalho, e disse que jamais voltaria para a capital porque ouviu falar da onda de violência que estava por lá. Decidiram, então, continuar residindo na mesma cidade, porém ele não conseguir trabalho na cidade em que residiam, o emprego que lhe ofereceram era na capital, e ele tinha que viajar e ficar de três a quatro dias por lá, trabalhando de dia e a noite, dormindo na casa de familiares, e voltando para ficar apenas uns poucos dias durante a semana com a família. Desta vez ela quer que ele abandone o trabalho na capital e fique a semana inteira com a família, mesmo sem ele ter (pelo menos naquela data), uma oportunidade de emprego na cidade da sua residência, e não ter nenhuma outra fonte de renda.


Os motivos para ele pedir conselhos a um rato

Havíamos trabalhado juntos há algum tempo, na mesma empresa, mesmo ofício, mesma sala, e tivemos alguns problemas de relacionamento na época porque eu era bipolar e ele não acreditava que minha doença era real, devido ao fato de que haviam dias em que eu não conseguia produzir ou comunicar-me mas em outros dias eu me comunicava e trabalhava normalmente. Ele tratava-me como se minha doença fosse uma farsa e, nos dias em que eu estava sob crise de pânico, ele investia sobre mim, criando situações de pressão, como se quisesse acabar com meu "teatro". Nos dias que eu estava bem eu tentava explicar que havia um problema real, que eu alternava estes dois estados, que durante as crises de pânico eu perdia o discernimento, ficava sem expressões no rosto, não conseguia entender o que acontecia ao meu redor e nem fazer-me entender, ele apenas ouvia-me e dava meio sorriso como se o que eu falasse não merecesse atenção. Um dia ele chegou no trabalho (eu estava tendo uma crise de pânico muito forte) e a expressão no rosto dele foi diferente comigo, não havia mais aquele sorriso irônico, olhava para mim como olha-se para alguém que precisa de ajuda e foi paciente comigo até que terminasse aquela crise (que durou mais ou menos três dias). Não perguntei para ele o porque daquela mudança de tratamento (para melhor) com a minha pessoa, mas depois de alguns dias entendi: a esposa dele foi diagnosticada como bipolar, a mesma enfermidade que eu tinha (e não sabia), e ele percebeu que eu tentava explicar-lhe as mesmas coisas "absurdas" que ela tentava explicar-lhe, a respeito de estados mentais que não podíamos controlá-los. Já não trabalhávamos mais juntos, mas mantemos a amizade, e agora ali, dentro do carro, ele desabafou comigo e esperava para ver o que eu diria a respeito daquele impasse com relação a enfermidade da esposa dele, o que eu tinha a dizer, se realmente o caso deles era insolúvel, se a separação era mesmo irreversível.


O diagnóstico do rato

Seguem os três itens da receita do rato para reverter aquela situação:

1. Ignore tudo o que ela falou durante a crise de pânico.

Ao voltar para sua casa, entre com uma expressão normal no rosto, como se não tivessem discutido ou brigado no dia anterior, e depois de alguns minutos, olhando com uma expressão normal e num tom de voz calmo e indiferente, pergunte alguma coisa banal, do tipo "Aquelas bolachinhas de leite acabaram ou sobraram algumas?". Após ela responder normalmente, esta ou alguma outra pergunta banal, feita depois de algum tempo, continue agindo como se não tivessem brigado em nenhum momento, e, sem encará-la diretamente, demostre na expressão do rosto que não existem lembranças do que conversaram no dia anterior.

2. Trate-a como um doente, dirija-se a ela da mesma maneira que um médico dirige-se a um paciente.

Depois de algum tempo, diga-lhe que considerou tudo que foi dito, que a preocupação dela é a mesma que a sua: família, filhos, e, realmente, as preocupações fazem sentido, mas vai esperar mais um dia, ou dois, para decidirem juntos, o que farão, que não irá força-la, agora, a deixará tranquila, descansando a cabeça, porque desde a manhã do dia anterior, pela expressão no rosto, percebeu que ela não estava bem, que iniciava-se uma crise, por isso vai deixá-la tranquila,  conversando apenas quando ela quiser, e deixando-a só e quieta, caso ela assim preferir.

3. Concorde com ela, dizendo que vai fazer tudo que ela sugeriu durante a crise de pânico.

Em algum momento ela mesma vai sinalizar que já podem voltar ao assunto, no mesmo dia ou não. Então faça isto: concorde com ela! Diga que ela tem razão e que você vai fazer exatamente do jeito que ela sugeriu! Que abandonará o emprego na capital no outro dia e que vai ficar junto a sua família todos os dias da semana, porque a família é mais importante para você do que o emprego! (Detalhe: não pode ser num tom de deboche, você tem que fazer ela sentir que realmente está concordando com ela, que ela te fez enxergar a melhor escolha para a sua família). A partir deste momento o peso da responsabilidade vai cair sobre ela e, sob pânico, ela mesmo vai dizer, "mas aí nossos filhos vão passar fome, não pode sair do trabalho assim...", e você vai dizer, é mesmo você tem razão, então vamos fazer assim, você vai ficar bem, e nós vamos decidir isso junto, pesando os prós e contras de qualquer solução, e nós vamos fazer o que for melhor para nós e para os nossos filhos. Mas por enquanto eu quero que você só descansa a cabeça porque eu não vou fazer nada sem antes conversar e decidir junto com você, e não vou passar este peso de te obrigar a decidir alguma coisa enquanto sei que você não está bem.


O tempo decorrido para a definição do diagnóstico

O senhor X, expondo seu problema..: 1:00 hrs. (uma hora).
O rato, para expor seu diagnóstico...: 0:10 hrs. (dez minutos).


A teoria aplicada

Quando o sr. X voltou para casa, a sra. Y estava com uma cara de que mataria o primeiro que aparecesse na frente. O sr. X entrou em casa sem dirigir-lhe a palavra, porém com a expressão do rosto normal, como se não tivesse acontecido nada no dia anterior, e, depois de algum tempo, executou o primeiro item da receita do rato. Ela respondeu normalmente, e, na mesma hora, mudou o semblante tenso para um semblante de surpresa. Em seguida, ainda espantada, perguntou porque ele havia me chamado para dar uma volta de carro e ele respondeu que quis tomar alguns conselhos comigo. Ele, o sr. X, me confidenciou depois que, ao dar-lhe esta resposta, na mesma hora ela expressou um sorriso de esperança (engraçado, não sei se é coisa da nossa cabeça... mas tem hora que imaginamos que só mesmo um bipolar entende outro bipolar, ou, para ser mais global, só alguém que teve ou tem síndrome de pânico consegue entender o que se passa na cabeça de quem está em pânico...) Bom, os outros dois itens do diagnóstico do rato foram aplicados normalmente, ao seu tempo, e decorreram como o previsto, mas já neste primeiro momento posso afirmar que toda aquela crise familiar foi revertida cem por cento.


O tempo decorrido para reverter o caso (da teoria à prática)

00:05 hrs. (cinco minutos)

(ei, espere, considere isso: eu disse CINCO MINUTOS...)


Porque a teoria deu certo?

Legal, é aqui que eu queria chegar. Explicar o porquê dos porquês, não sob uma ótica médica, mas sob a ótica de quem está vivenciando este problema na prática, na pele. Não tenho teorias para a cura (se tivesse, aplicaria em mim mesmo), o que tenho na verdade é uma teoria para convivência, para reverter situações que dificultam o convívio com bipolares, ou mesmo com aqueles que não tem os dois pólos (euforia e depressão (com pânico)) mas que tem em comum a SÍNDROME DE PÂNICO.

O porquê dos porquês será explicado no próximo post (referente a trajetória do rato de laboratório) que terá o seguinte título:

"O porquê dos porquês - A conclusão e o fim da saga do rato de laboratório"

Até lá...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Toda a trajetória do rato de laboratório, desde o início


Com a palavra, o rato de laboratório! (parte 1)



Sim, o rato vai falar! E, por que não, qual o problema? É lógico que o rato pode se manifestar! Concordo, ele não seguiu carreira acadêmica na área de psiquiatria, psicanálise, psicologia, medicina, e não podemos desprezar jamais o conhecimento de um médico. Concordo que o rato envolvido em um estudo ou experiência é apenas um rato, ele não tem a autoridade de um médico, MAS ELE TEM A AUTORIDADE DE SER O RATO UTILIZADO NA EXPERIÊNCIA! Ele e somente ele é o indivíduo objeto do estudo, correto? Bom, prossigamos: todo o conhecimento médico e científico obtido através de experiências com cobaias em laboratórios são frutos de muita paciência, persistência, observações, anotações, uma boa dose de intuição e o óbito de muitos ratos (puxa vida, doeu falar isso...) e, um estudo deste tipo pode demorar anos e anos e nem sempre chegar a um resultado satisfatório.

Agora, digo algo intrigante, pondere isto:


- O conhecimento dos profissionais da área médica-psiquiátrica é obtido através de:

cursos + experimentações + observações + hipóteses + troca de informações.


- O conhecimento do nosso indigente, o rato de laboratório, é obtido através de:

REAÇÕES BOAS, MÁS OU PÉSSIMAS QUE SENTE NA SUA PRÓPRIA PELE!

  
Agora, a pergunta que não quer calar: vamos imaginar que, um rato recebe o dom de falar, e, durante uma experiência em que um profissional de pesquisa científica já está há uma semana sem falar, sem comer, sem dormir, sem piscar, com os olhos vidrados observando o comportamento e reações de um rato que, só pra exemplificar, ingeriu drogas ainda não estudadas, caso o rato colocasse-se de pé e falasse "Ei, acabaram-se seus tempos de dúvidas e angústias, porque gosto muito de conversar e vou falar tudo que estou sentindo, com o máximo de detalhes possível. Posso imprimir relatórios, dramatizar, desenhar, criar ilustrações. Ah..., sim, caso queira algo mais profissional, leve-me a um computador e elaboro rapidamente uma apresentação no PowerPoint!".

Você acha que, neste caso, o rato seria mais útil e poderia abreviar o tempo necessário para a conclusão dos experimentos? Sim? Obrigado, é a deixa que eu esperava. Permita-me apresentar-me: sou o rato, a partir de agora falo na primeira pessoa, e tenho algo a dizer com relação a depressão e pânico de bipolares. Obrigado pelo silêncio que houve na sala. Aonde estão os meus óculos? Aqui. Deixa eu pegar minhas anotações... cadê... ok, vamos lá..

(acompanhe toda a saga do rato de laboratório, em ordem cronológica, nos links a seguir):







Último informe: o rato de laboratório foi visto em diversos lugares do mundo

Estamos, aqui novamente, o seu Repórter WEB Virtual Última Hora, ao vivo pra você, na sede da polícia federal. Fomos informados pelo delegado chefe que o rato de laboratório está se movimentando rapidamente como uma forma de dificultar o trabalho das polícias do Brasil e do mundo, que uniram-se num esforço para facilitar sua captura. Entre as últimas vezes que o rato de laboratório foi visto, podemos destacar:

1 - um cinegrafista amador registrou o momento em que o Bope invadiu uma das favelas do Rio de Janeiro e o rato de laboratório foi visto pulando sobre os telhados dos barracos com um fuzil AR-15 nas costas, fato que levanta a suspeita de ter envolvido-se com o tráfico de drogas.

2 - Um turista brasileiro nos EUA fotografou o rato de laboratório trabalhando como garçonete em um estabelecimento especializado em comida brasileira em Orlando. O tal turista postou as fotos no Facebook.

3 - O rato esteve desaparecido por diversos dias sem que a polícia encontrasse pistas do seu paradeiro, e, posteriormente, descobriu-se que ele utilizou uma forma eficaz de camuflar-se: disfarçou-se de nômade Beduíno no Egito e misturou-se a uma multidão que peregrinava para Meca. Ele julgou que, no meio da multidão, jamais seria reconhecido, porém, não contava com a ajuda que a polícia federal tem para estes casos: um agente especial que, durante sua infância, especializou-se em procurar personagens e objetos em multidões através dos livros da série "Aonde está o Wally?". Após visualizar uma imagem de satélite que cobria uma multidão de um milhão de pessoas, o rato foi localizado mas, antes que a polícia chegasse ao local, já havia mudado seu paradeiro.

4 - Através de uma denuncia anônima, a polícia chegou a um retiro espiritual em uma chácara na região da grande Curitiba, Paraná, Brasil, uma sociedade secreta, onde a mestre Fábia ministra ensinamentos sobre petrefiolismo. A polícia não conseguiu confirmar se realmente o rato esteve por lá, porque, a cada pergunta que fazia, a mestre Fábia passava horas e horas divagando sobre diversos assuntos, menos sobre o que fora perguntado.

5 - Ainda não foi confirmada esta informação, mas, segundo um homem que se diz dissidente, o rato organizou um pequeno grupo, um exército de rambos, que se auto denomina QPTP (Queremos Parar de Tomar Pondera) e estão fazendo uma marcha pelo interior e sertões do Brasil, nos mesmos padrões da Coluna Prestes.

O Repórter WEB Virtual Última Hora pode voltar a qualquer momento com mais informações. Fique ligado. Boa noite.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A lente

Mudança de conceito,
de pensamento,
não sei se, permanente
mas, pelo menos,
no momento
Quantas vezes
pensamos que sabemos
mas somos enganados
por nós mesmos
e descobrimos
que nenhuma luz havia
ou (assumo), havia
mas não era ela
quem nos regia:
éramos regidos pelo medo
O medo é uma lente
não do olho,
é uma lente da mente,
que não aguça a visão
Lente que atrapalha,
exibe outra película
muda, deturpa, engana,
enche-nos de razão
sendo que ela própria
roubou-nos o discernimento
Confunde interlocutores
altera o sinal
muda o sentido das palavras,
das expressões, dos rostos,
e vemos tudo e todos como parte
da grande conspiração
universal contra nós
e respiramos com cuidado
porque até o ar é suspeito
de querer envenenar-nos
ao mandado de vespas
prateadas
que levam-se
ou são levadas
em bicos de gaivotas
à esconderijos sobre rochedos.
Sob ataque, um simples gato
por mais manso e dócil
que seja,
quantos estragos fará
não reconhecerá a mão que o afaga
nem a mão que o alimenta
Ensandecido, soltará o seu grito
exporá suas garras
e saltará para o tudo ou nada
vendo sem ver,
apenas instinto
de viver, sobreviver
adrenalina animal
acertando a tudo e a todos
que possa acertar
passou-se o momento
tenso
retrai as garras
como uma espada que volta
a bainha, nas costas
de um samurai.
Não há do que envergonhar-se, o gato
lambe as garras e fica imóvel,
(aparentemente) desligado,
sob o sol
Parece não ter consciência
dos perigos que enfrenta
(e vence) e nem comemora
parece-lhe normal
vencer
um inimigo real
Mas cubro-me a cabeça
escondo-me, de vergonha
Quem dera eu fosse
ao menos quixotesco
enfrentasse moinhos, barrancos
estradas e acostamentos,
mas não...
invisto furioso contra pessoas!
contra sentimentos
contra boas-intenções
criando rusgas, mágoas
fronteiras, abismos
feridas que não cicatrizarão
lançando sobre mim mesmo
a alcunha de
o "não vale a pena" ou
o "perda de tempo"
destruindo relacionamentos
dificultando a socialização
lançando-me a margem
da sociedade
sem ser criminoso
mas por ser
este o lugar
natural
onde vivem os ratos,
as baratas, o leproso...
sou uma sombra,
uma fachada profissional
um programador
que já não programa
um profissional excluído
do círculo social
um profissional marcado:
é inteligente mas "problemático"...
que tem, como abrigo, um quarto emprestado
e que ganha o pão de favor
sem médicos, sem remédios,
sem acompanhamento,
Aproveitando uma chance
de ser autônomo
Eis aqui o espaço emprestado
desenvolva o seu projeto
o seu programa
e viva por conta.
Mas, isso é aproveitar uma chance?
O cérebro já não programa
ele esconde, atrás do projeto,
na tela do computador,
a janela de um editor
em que, no tempo que deveria
estar trabalhando
só consigo escrever
este poema da dor...
Sou, eu mesmo, tudo isso
e tudo aqui é nada:
sou o resto de mim mesmo.
Que vá ficando tudo isso
como um testemunho
uma recordação
uma receita
uma parte do que fui
ou pelo menos daquilo que quis ser...
Não é a primeira vez que vim aqui
(parece-me que este poço
está cada vez mais profundo...)
espero que deste e
de tantos outros (próximos)
poços (que virão ou possam vir)
eu venha a sobreviver
Mas será meu consolo se
no dia em que eu morrer
Alguém,
ainda que, um só que seja,
ler os meus escritos e dizer:
"Aqui jaz um homem que era poeta,
que acreditava muito em Deus,
e nunca abriu mão de sua fé".
Boa noite.

Onde...

Onde desligo a mente?
não busco nada radical
não precisa ser um "parar"
O que queria, mesmo,
era encontrar
o "pause"
ou que continuasse rodando
mas diminuísse, ao menos
o número de frames
por segundo
Rodar assim, acelerado,
dói...
meu cérebro não é duo
é dual, apenas emula
não suporta a carga
acima do normal
e faz a sua festa
como um viciado
que não consegue
(e nem sabe a hora de)
parar...
Lembro-me da sabedoria
dos antigos
das velhas fofoqueiras
que tricotavam em cadeiras
sob a sombra em seus quintais
"filósofas" enrugadas
que entre ofícios básicos e o ócio
criavam ou repassavam
ditos da dita "sabedoria popular"
e com a autoridade de uma esfinge
de verdadeiros monumentos (ainda) vivos
inspiravam-se em nossos erros
e não sem um sarcasmo
e um sorriso de desprezo
selavam nosso destino:
"Quando a cabeça não pensa,
o corpo padece"
Oh, meu Deus, olha pra mim...
e julga-me
não quero ser réu desta lei injusta
das "filósofas" de quintais
porque, no meu caso,
o corpo padece
mas não é, porque,
a cabeça não pensa
mas, sim, porque
pensa demais...


Receitas essenciais: Como fritar um ovo





1 - Ponha um pouco de óleo em uma frigideira.
   
2 - Abra o registro do botijão de gás.
   
3 - Abra o registro do fogão.
  
4 - Acenda o fogo com um palito de fósforo, ou com um isqueiro, ou com um acendedor manual, ou com o acendedor elétrico caso exista este item de fábrica para seu modelo de fogão. O que? Você não tem nada, ainda, em mãos, para acender o fogo? Vai ter que procurar? Bom, neste caso, então, feche rapidamente os registros que já abriu e vá procurar o fósforo, ou acendedor ou o raio que o parta, mas se eu tiver que falar tudo vai ficar difícil, nenhuma receita de forno ou fogão tem que avisar que precisa ter em mãos uma caixa de fósforos ou algo assim, é muito básico, qualquer um tem que saber! Vai, meu! Procura esta porcaria onde deixou e após achar me acorda, e começamos tudo de novo, do zero. Aliás, já que percebemos que isto não vai dar em nada, não me acorde, faça com esse ovo o que quiser: FRITA, RALA, ASSA, FAZ UM BRINCO E PÕE NA ORELHA, ENTERRA, SEPULTA, FAZ SERVIÇO DE FUNERAL, PÕE NO TELHADO DA SUA CASA OU EM CIMA DO CAPÔ DO CARRO PRA VER SE FRITA COM O SOL, OU JOGA NA BOCA E MASTIGA, ASSIM, COM CASCA E TUDO, OLHA, MASTIGA E ENGOLE, ENTENDEU? ENGOLE!!! MAS NÃO ME ESTRESSA, CARA, NÃO ME ESTRESSA!!! Deixa eu sumir daqui, tchau!!!!!
 
 
 
- “A produção deste programa lamenta o ocorrido, e já estamos pesquisando a enciclopédia médica para saber se existem explicações plausíveis para o que nos aconteceu nesta manhã. A emissora substituirá temporariamente esse programa, mas dentro de alguns instantes retornará com a grade normal de programação. Tenham um bom dia”.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Último informe: O rato de laboratório escapa de cerco policial!

Estamos aqui, Repórter WEB Virtual Última Hora, ao vivo pra você: interrompemos a programação normal deste blog para informar que, através de uma denúncia anônima, a polícia federal conseguiu chegar ao local do esconderijo do rato de laboratório. Ele estava no quinto andar de um prédio aqui na parte baixa do centro da cidade. Apesar da ação rápida da polícia, o rato conseguiu escapar pela janela, descendo, segurando-se e escorregando pela calha d'agua, enquanto a polícia tentava arrombar a porta. Ao chegar na calçada, haviam alguns policiais federais do lado de fora do prédio que davam cobertura aos homens que entraram e iniciou-se uma perseguição a pé no centro da cidade. Os policiais estiveram bem perto de por as mãos no rato de laboratório, mas, antes que conseguissem, deram de frente com a parada gay que está acontecendo aqui, desde o começo da manhã, nesta avenida principal, e o rato infiltrou-se rapidamente no meio da multidão. Os policiais federais fizeram o mesmo, armados, mas não conseguiram encontrar o fugitivo. Houve uma grande preocupação por parte da polícia, de que sua entrada no meio da multidão causasse um tumulto e atrapalhasse o bom andamento da festa com as cores do arco-íris, mas o incidente passou desapercebido, como vê-se através desta gravação, confira a imagem, na tela:

- "Bom, dia, meu senhor, o que está achando desta grande festa?"

- "Ai! Hoje eu sou só alegria. Quero ficar que nem está avenida: coberto de paetês, plumas, confetes e purpurina!"

- "E o que mais gostou até agora, de tudo que viu por aqui?"

- "Ahh, adorei as fantasias! São todas chiquérrimas, maravilhosas, coloridas, criativas! Mas mesmo assim é incrível como a-do-ra-mos o básico, porque a fantasia que mais gostei, mesmo, foi a de um homem alto, forte, de bigode, que estava armado e fantasiado com um colete da polícia federal... aaaaaiii, gêeenti... não aguento ver essas coisas... uuuuuuuiii!!!!"

A qualquer momento o Repórter WEB Virtual Última Hora poderá voltar com mais notícias. Fique ligado. Tenham um bom dia.


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Repórter WEB Virtual Última Hora informa: O rato de laboratório está solto novamente!

- "Nessa madrugada de segunda-feira para terça-feira, três elementos encapuzados e fortemente armados invadiram esta delegacia, dominaram os policiais que faziam o plantão junto ao escrivão, e em seguida abriram a cela onde estavam o rato de laboratório e mais sete presos. Os bandidos trancaram os policiais e o escrivão nesta mesma cela, e o rato de laboratório, junto aos três elementos encapuzados, fugiram na viatura que estava no pátio, a qual abandonaram logo em seguida, fugindo com um carro roubado. Os demais presos fugiram a pé, sendo que quatro deles já foram recapturados, um foi encontrado em um boteco próximo a este local, ouvindo pagode e comendo uma coxinha. Como pode ser notado, os bandidos não efetuaram um único disparo. Está sendo aberta uma sindicância para apurar se houve facilitação da fuga, visto que o rato de laboratório já deveria ter sido transferido há alguns dias, e também o porquê haviam somente dois policiais no plantão desta madrugada. O resultado da sindicância pode ser determinante para a manutenção do delegado titular no seu cargo ou não. Não sabe-se ainda se há veracidade no fato ou se estão tentando evitar uma histeria coletiva, mas o delegado chefe da polícia federal afirmou que está tudo sobre controle, que não há motivos para pânico, pois dentro de poucas horas o rato de laboratório será preso novamente. Enquanto isto não acontece, nós, do Repórter WEB Virtual Última Hora aconselhamos que todos fechem suas casas, fechem seus sites, fechem seus blogs, fechem suas mentes! ".

- "A qualquer momento o Repórter WEB Virtual Última Hora voltará com mais notícias, fique ligado. Boa noite".


domingo, 9 de outubro de 2011

Resta pouco...

A sobra não é o excedente
de uma medida farta
que já não cabe
em galpões e celeiros
A sobra, na verdade
é o que (ainda) não esvaiu-se;
é uma, apenas, entre tantas
coisas essenciais
que já não estão aqui
mas lembro-me do lugar
que ficavam
Podia tocá-las, ouvi-las
senti-las...
Ocupavam um espaço físico,
tinham pulso
moviam-me
motivavam-me
compunham-me
Convidavam-me para a vida
Eram integradas entre si
e eu nem sabia que eram
tão parte de mim
E vão-se, saindo
da minha vida,
sem despedida
sem bilhetes
sem justificativas
saindo da lista
das coisas que ainda não perdi
Sou um corpo fragmentado
ando como um leproso
que em cada lugar que passa
deixa um pedaço de si...


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Aplausos aos coadjuvantes: a Alegria e a Angústia!

Sobre outro post neste blog, em específico, o post "Viva a Lucidez!", ele não traduz o meu estado real de quando compus o texto, e nem poderia, visto que o texto traduz dois estados de espírito diferentes, não dava para descrever em tempo real. O que ocorreu, na verdade, é que, depois de voltar de um estado de completa confusão mental que durou quatro dias, entrei em um estado de grande euforia e alegria, pois ao abrir os olhos pela manhã e levantar-me, percebi que estava lúcido novamente. Por voltar a realidade cotidiana, saí de casa sentindo-me a pessoa mais feliz do mundo, pois a mente estava funcionando, submissa, mas antes da metade daquele dia descobri que, apesar de não sentir os sintomas físicos dos dias anteriores, estava vivendo o ápice daquela crise e só descobri isso após tropeçar em diversos pontos em que tropeçam apenas os que estão completamente fora do estado de normalidade. A partir daí foi como apagar uma Luz, caiu o disfarce da minha falsa lucidez, e retornaram, potencializados, todos os sintomas que esconderam-se de mim pela manhã, e voltei a este terreno onde nada germina, mas é fértil para criar imagens onde a mente possa descrever estes ambíguos estados de espírito. E, após o almoço, narrei neste texto o cenário daquele dia, em que meu mundo era virtual e eu não sabia, era apenas um palco, e meus coadjuvantes foram a alegria (no primeiro ato), e no final a angústia.

Segue o link original da postagem:


Fiquem com Deus.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

É estranho...

Sensação estranha
de não existir
de não estar aqui
de estar fora do tempo
a mercê de tudo e de todos
estar em off
em outro lugar
em outro estado
de auto-sugestão
concordando com tudo
aceitando tudo
mesmo sem opinião formada
Concordar é uma forma
de esgotar o assunto
É melhor encurtar as palavras
interagir com meros acenos
ou palavras monossilábicas
que deixar o locutor desatento
pensar que vai nos envolvendo
com alguma divagação
que já nem sabemos do que se trata
Ah, quem dera, quem dera...
Que a mente se fixasse
ao menos em um ponto,
que tivesse amarras
mas vai livre,
solta,
a mente
comemora a liberdade
com vôos rasantes
festejando a soltura
por já não estar presa
ao container humano
Vai, mente, comemora
mas volta logo,
não demora
e nem se perca
Ah, e perdoa-me
por não alegrar-me
com tua liberdade
Mas é que,
quando és prisioneira
em mim,
estou livre
mas quando és tu, mente,
quem voa, livremente,
o prisioneiro sou eu...


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Como explicar isso aos psicólogos e/ou psicanalistas?

Alguns psicólogos e/ou psicanalistas retraem-se ao ouvir frases como "Graças a Deus", "Se Deus quiser", "Tenho fé em Deus", ou melhor, se simplesmente mencionarmos a palavra "Deus", eles sentem calafrios.

Normal, eles vem de uma formação que reflete muito os estudos de Freud, que associa muitos dos nossos problemas ao nosso sistema de crenças, inclusive (ou principalmente) religiões, que, segundo afirmava, geram bloqueios psicológicos e sentimentos de culpa, por não conseguirmos enquadrar-nos cem por cento na ética e moral religiosa e por somarmos, ainda, a todos os nossos medos, o medo que sentimos de Deus (Carl Jung é o outro lado da moeda, pois nos seus estudos conciliou com maestria psicanálise, fé e religião, porém os profissionais mais materialistas preferem a abordagem freudiana).

Bom, não quero iniciar um debate sobre acreditar ou não em Deus, até porque, acredito em Deus de toda a minha alma, mas respeito o direito daqueles que não crêem e não querem crer, é um direito de cada um, seja médico, psicólogo, doente mental, ou qualquer outra pessoa deste mundo.

Mas alerto os profissionais de psicanálise, psicologia e mesmo de psiquiatria, que ao tratarem um paciente com pânico e/ou depressão profunda e o paciente sinalizar de alguma forma que acredita em Deus, não devem perder o foco do tratamento simplesmente para tentar fazê-lo desacreditar em Deus, ou, utilizando um termo técnico da área, tentar mudar seu sistema de crenças. E explico o porquê: a fé em si não tirará o paciente do estado de pânico, já que, pelo menos no caso do bipolar, o pânico e depressão não são de origem psicológica e nem espiritual, são de origem física mesmo, mas a fé em Deus, e quanto maior for ela, conseguirá muitas vezes que o pânico trabalhe a favor do próprio paciente.

Interessante, não? E quer saber porque?

Simplesmente porque quem não acredita em Deus tem mais facilidade para matar-se, porque para ele a morte não acarreta consequências, só soluções, pois não acredita em ressurreição e Juízo Final, nem em céu e inferno. Para ele é mais fácil ter coragem para matar-se, por acreditar que após morrer virará adubo e tudo acabará, e haverá somente o nada, o vazio absoluto, a não existência, e isto para ele significa paz. Agora, para aquele que acredita em Deus ocorre algo diferente: por causa da depressão ou do pânico ele pensa em matar-se, com a intenção de descansar para sempre, mas, como o doente mental em estado de pânico ou depressão profunda tende a acreditar que sempre acontecerá algo pior, ele teme que esse descanso oferecido pela morte seja apenas ilusão, e que, após morrer, acorde com a sensação de ter dormido apenas uma noite de sono e seja apresentado diante do Tribunal Eterno como um homicida, como o assassino de si próprio, e teme por isso encontrar rapidamente um inferno muito maior que aquele que já está atravessando. Não quero dizer com isso que todos que suicidam-se não são religiosos ou não acreditam em Deus, não é isso que eu quis dizer, mas enquanto houver um mínimo de razão, por mais forte que seja a crise, o doente mental que é religioso, praticante ou não, consegue temer o pós-morte na mesma proporção que teme continuar vivo, e isso acaba gerando um equilíbrio.

E o ato de acreditar em Deus, senhores, para os doentes mentais, é algo relativo. Porque na hora da maior angústia, quando perdemos a razão e o discernimento, quando não somos compreendidos nem pelas pessoas que amamos e nem tão pouco pelos profissionais da área médica-psiquiátrica que se comprometem a ajudar-nos, creio que até o ateu mais convicto clama, mesmo que desta forma: "Ah, Deus, quem dera... que Tu realmente existisse, e aí do céu estivesse olhando para mim..."

Bom, voltando o foco para nosso ponto de partida, o que leva-me a inserir este novo post, como citei anteriormente, é o fato de alguns psicanalistas, psicólogos e psiquiatras centralizarem todo o seu arsenal em prol de "mudar ou destruir o sistema de crenças" quando descobrem que o paciente acredita em Deus. Isto parece um ponto de honra da psicanálise, e também da PNL, ou programação neuro-linguística, como se toda e qualquer terapia dependesse da incredulidade ou credulidade do paciente. Alguns profissionais (não todos) frisam que toda religião deve ser questionada, e fazem um trabalho direto ou indireto em que o ápice seria, se possível, eliminar completamente a crença religiosa. Bom, partindo deste ponto, estes profissionais desenvolveram uma crença tão forte nisto, defendendo este princípio freudiano com tanta convicção que, mesmo sem perceber, tratam-no como se ele por si próprio fosse uma religião, e recebem qualquer questionamento sobre os estudos de Freud como algo semelhante a uma blasfêmia a um ser inquestionável, na prática, como se Freud fosse um deus ou semi-deus. Logo, digo aos profissionais das áreas de psiquiatria e psicanálise que abordam os pacientes desta maneira que, se realmente toda religião deve ser questionada, que questionem a si próprios e a tudo que aprenderam a respeito de fé, crença e religiões.

(Hoje voltei à este post, depois de alguns dias, e trago outro sentimento: ao relê-lo, vi-me arrogante, como se fosse dono de toda verdade. Mas peço-lhes, desculpem-me o desabafo, todos os neuro-psicanalistas-psicólogos-psiquiatras, porém não vou apagá-lo, pois é o espelho do que senti naquele momento, ainda que seja, na verdade, o que penso (e creio), mas sou isso, as vezes, um turbilhão de pensamentos, há coisas que devem ser ditas, outras apenas guardadas, mas quando o homem torna-se uma metralhadora giratória, acerta o que está a sua frente, e até os passantes, que apenas passam, alheios aos fatos, sem culpa de nada. Mas fiquem com este consolo: quando se atira a esmo, para todos os lados, acerta-se a tudo e a todos, mas também a si mesmo: acertei minha unha encravada...

Não tenho o perfil dos que podem ser levado a sério todos os momentos, nem posso dar-me ao luxo de descartar toda ajuda ofertada. Eu preciso de Deus. E também de vocês. Tenham um bom dia. Obrigado).