terça-feira, 9 de outubro de 2012

Até ressurgir...


Não sei se é bom
ou ruim
o desconforto.
Tudo é estranho.
Sinto-me um intruso...
Parece-me, até,
que nunca estive aqui,
mas...
estive
muitos dias,
e, mesmo assim,
não simpatizo
com o lugar.
Não fui hóspede,
era cativo.
Estive, confesso,
mas nunca quis estar...
Onde fica a saída?
não consigo localizar-me;
não há bússola,
nem placas,
nem estrelas,
nem marcos,
nem referências,
nem coerências,
nem boa vontade
da minha parte
combalida,
enferma,
que perde-se
nas questões,
ou falta delas...
que regurgita,
rumina,
deforma-se,
desinforma-se,
junta restos,
cacos,
sombras,
impossibilidades,
verdades,
e soca no oco
da centrífuga
do cérebro,
e no giro frenético
da mente demente
forma-se o caldo
da sopa caótica
(já assisti este filme várias vezes...)
Mas sobrevivi,
graças a Deus,
pois,
apesar de estar
(novamente) aqui,
consegui
um intervalo
de tempo (meses)
sem demência
e sem remédios.
Sim, estavam certos
os que aconselharam
"Elimine os problemas
e o cérebro será restaurado".
Sobre aconselhar,
ainda bem que existe
um lado bom
na natureza humana,
dos que são humanos
no sentido
de esperar o bem
e ajudar ou
tentar
ajudar
os moribundos,
combalidos,
que mendigam dignidade,
sustento,
justiça,
liberdade,
ou simplesmente serem ouvidos.
Sobre eliminar problemas,
ainda bem
que existe Deus
(graças a Deus),
senão,
eu estaria lascado...
Alcancei, novamente,
consistência
na vida,
emprego,
moradia,
dignidade,
trabalho...
Mas, descobri,
no primeiro duro teste
depois do doce intervalo,
que ainda não estou
(completamente) curado,
E é Deus,
ainda, Quem sustenta
minha vida insustentável,
e estrutura, gentilmente,
a existência disforme,
concedendo-me condições,
sabedoria,
forças,
equilíbrio,
sobriedade...
E se voltei,
na crise presente
da contraditória doença,
às salas vazias,
aos corredores úmidos,
às escadas sombrias,
dos descaminhos da demência,
é positivo que sinta-me
um estranho,
pois não quero
e nem irei
fixar
minhas estacas aqui,
no poço da desesperança.
Esse poço terá
que vomitar-me,
não suportará minha presença,
porque a esperança
já mora dentro de mim.
A esperança não alojou-se
no cérebro,
lugar da razão,
que ainda resiste,
porém, o cérebro,
vai-se, lentamente,
deteriorando-se,
se não pela doença,
pelo menos,
fatalmente,
pela passagem
inclemente
do tempo...
Ah... mas a esperança foi sábia,
buscou morada
no coração,
lugar onde nascem
e vivem
as intenções
e emoções.
O cérebro vai mal, coitado,
ore por ele...
Mas o coração vai bem, obrigado,
por ser o lugar
que Deus escolheu
para morar.
(Deus mora dentro de mim).
Vou-me, já, veterano,
desta enfermidade ridícula.
Conheço seu ciclo:
mais dois ou três dias
ressurgirei
como se nunca houvesse
submergido.
Vela-me, Senhor, enquanto durmo.
E que no nascer de um novo dia
eu também possa ressurgir.
E dos temores de ventos reais
ou miragens do meu medo,
livra-me, novamente,
porque confio em Ti.
Amém.

Fiquem com Deus.