quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Consegui parar de tomar Pondera!

Eis aí a foto do meliante, o dito cujo Pondera. Diz-se que é caro e eficiente, mas, na maioria das vezes, é só caro.

O título deste post também poderia ser "Consegui parar de tomar Cloridrato de Paroxetina", que no Brasil é comercializado sob o nome de Pondera, Roxetin, Paxtrat, Paxan, Benepax, Cebrilin, Aropax, Arotin, Depaxan, Moratus, Parox, Paxil, Paxtrat, Roxetin, Sertero, Ziparox, diversos nomes, mas no fim são tudo a mesma coisa...


A bula do Pondera diz que o remédio não causa dependência, correto? Mas então porque não conseguimos abandonar o uso rapidamente? Porque devemos reduzir a dosagem gradativamente, lentamente, como se fossemos usuários de morfina ou heroína???

Bom, fui diminuindo a dosagem de 40 mg até chegar nos 20 mg, minha meta era diminuir para 15 mg, depois 10 mg, 5 mg, -5 mg, sei lá... mas a verdade é que 20 mg estava no meu limite, mesmo tomando esta dosagem eu sentia um mal estar, um começo de crise de abstinência, e olha que não tomei o medicamento por muito tempo, apenas nove meses, pouco tempo comparando com pessoas que tomaram por anos e anos. Parar de uma vez, sem chance, acredito que a morte não incomode tanto quanto a sensação de desespero, de loucura que dá, cinco dias após a parada abrupta do consumo do dito remédio (mas, fala a verdade, Pondera é um nome até bonito, não é?).

Seguinte, por motivos de força maior (não vou assumir que foi por falta de dinheiro) fiquei alguns dias sem tomar o belo comprimido. Já estava indo pelo quarto dia e quando estava começando a crise de abstinência, encontrei, abandonada, uma caixa de Rivotril que haviam receitado para minha (ex) mulher.

Já sei de longa data que o Rivotril, esse remédio tão popular aqui no Brasil, causa dependência. Aliás, deve ter criado muitos viciados antes que os laboratórios assumissem que o remédio de nome simpático é, apesar do relativos "benefícios", uma droga cruel, com muitos efeitos colaterais e difícil de ser abandonado.

Mas sei também que o Rivotril é largamente receitado para depressivos, bipolares, portadores de toc, fobias, enfim, para as pessoas que fazem parte do nosso mundinho.

Bom, como quem não tem cachorro caça com gato, eu tomei um comprimido de Rivotril para ver se controlava a crise de abstinência, e, vocês acreditam, deu certo??? Porém o mais maravilhoso aconteceu sem eu perceber: quando passou o efeito do Rivotril (senti o efeito dele por três dias) eu já havia superado o período crítico da crise de abstinência e quebrado o ciclo de dependência do Pondera! Lembrando, o meu tratamento provisório já havia terminado, a minha briga era só para conseguir parar de tomar o remédio.

Pela lógica (de programador, não de médico) acredito que deu certo porque os dois remédios são indicados para algumas finalidades em comum, porém possuem princípios ativos diferentes: o Pondera é Cloridrato de Paroxetina e o Rivotril é Clonazepam.

Há pessoas que tomam o Rivotril e o Pondera ao mesmo tempo, acredito que, neste caso, seja interessante abandonar o uso de um dos remédios, ficar só com o Pondera, por exemplo, para se libertar do Rivotril. E fique alguns meses (uns três, quatro, ou cinco meses, ou até se sentir liberto do remédio) tomando somente o Pondera para o organismo se desacostumar dos efeitos do Rivotril). Bom, chegando neste ponto, está na hora de escolher o dia D. Tudo pronto? Então vá!!!! Pare também com o Pondera, mas, atenção, é necessário ter timing, não pode adiantar muito nem atrasar, tem que ser mais ou menos preciso como uma prova de atletismo de corrida de revezamento com troca de bastão: depois de alguns dias que descontinuar o uso do pondera, quando perceber que esta quase começando a crise de abstinência (acredito que varia de pessoa para pessoa, no meu caso começou um pequeno mal estar no quarto dia), quando conseguir avistar de longe os batentes da porta do inferno, tome um único Rivotril só para anular o "veneno" do Pondera.

E aí, vai seguir minha receita? Sério? Bom, se você acredita que é melhor ouvir o conselho de um programador do que procurar um médico especialista, então, desista, você tá louco mesmo. Talvez seja a hora de se internar...

Boa Sorte. Vou orar por você.



sábado, 22 de janeiro de 2011

A Flauta de Madeira

Tenho uma flauta transversal de madeira. Rara. Belíssima. Som aveludado. Não conheço sua história, seus trancos, barrancos e solavancos. Quem a tocou, quem a possuiu. Se foi de um compositor, solista de uma orquestra, um professor, aluno ou de um simples amante da música.
  

O pouco que sei dela traduz-se nisso: meu irmão mais velho achou um anel velho que saltava para fora de uma lata de lixo. Levou o anel à um antiquário e viu lá o que sobrou de uma antiga flauta transversal que resumia-se em madeira trincada, molas relaxadas, sapatilhas ressecadas, mecanismos travados e parafusos faltando. Sugeriu ao dono do antiquário fazerem uma troca “elas-por-elas”, “pau-a-pau”. Aquele senhor, provavelmente, estava muito ocupado, e, lixo-por-lixo, topou a troca na hora, dispensando meu irmão.
  
Bem, meu irmão nunca interessou-se por flauta, e como sabia que gosto de música e, particularmente, de flauta-transversal, uniu-se a meu pai e fizeram uma bela reforma (por não existirem peças para reposição, algumas foram feitas no torno). Resultado: ganhei de presente um instrumento belíssimo que, pelo imenso valor que tem para mim, imagino que jamais conseguirei retribuir-lhes. Já recebi ofertas de outros (verdadeiros) flautistas. Mas dessa não desfaço-me e não vendo por nada. Não vendo, não empresto, não alugo. Ponto.
  
Pesquisando a história das flautas transversais, vendo fotos, desenhos, verifiquei que Boehm apresentou um modelo parecido em 1832 (utilizo o modelo de Boehm, o inventor, como referência, porém a minha flauta é da marca ‘Le Conté - Paris’ , francesa, presumo, da qual, na data em que efetuei a pesquisa, não encontrei nenhuma referência histórica). Porém, pela similaridade, acredito que minha Le Conté tem mais ou menos um século e meio, até porque o próprio Boem abandonou os modelos de madeira e, por motivos acústicos e de afinação que ele defendia, optou pelo metal e apresentou um modelo de prata em 1847. Tenho certeza que jamais viverei um século mas a flauta caminha para o segundo. Sei que, com um pouquinho de cuidado, mesmo depois que eu partir ela ficará por aí. Um bom tempo ainda, é o que desejo para ela.
    
Tenho uma filha linda (todos os meus filhos são lindos, modéstia a parte). A Mônica (é o nome dessa maravilha a quem me refiro) sempre gostou de música. Gosta de ouvir, tocar, já tocou na fanfarra da sua escola, toca algumas notas no trumpet do seu tio e toca flauta (apenas de ouvido, sem leitura musical) com doçura, afinação e divisão suficientes para ser acompanhada por outros músicos com seus instrumentos. Esperto como quero ser, criei um plano para a flauta não sair das mãos da minha descendência: combinei com a menina que lhe deixarei a flauta, como herança e recordação, desde que ela vá com a mesma no meu velório e toque o hino 433 do hinário 4 da CCB, perto do meu caixão. Ela mostrou-se sensibilizada, comovida, agradecida por poder ficar com a relíquia, mas, como não gosta de ir a enterros, velórios ou funerais, vai tocar e gravar o referido hino em MP3 e pedir que alguém leve o tocador e deixe-o ligado dentro do caixão, próximo ao meu ouvido entupido de algodão.
  
Viva a tecnologia! E essa capacidade humana de adaptar-se as mais difíceis situações...