quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Será que vale a pena...?

Tristeza...
sensação de vazio,
frustração...
Estado atual?
DESMOTIVADO.
Como é possível???
Tanto tempo dedicado à mira
e não atingimos o alvo...
o(s) alvo(s) é/são a(s) mente(s),
nos corredores, as estantes,
dos cérebros alheios,
o cerne do conhecimento
absorvido,
assimilado,
mas...
absorveram?
Assimilaram?
Aparentemente,
as confissões,
esquemas,
fórmulas
e súplicas
da mente
foram interessantes,
diferentes,
belas,
angustiantes,
aplaudidas,
elogiadas,
mas,
fora isso,
na essência,
foram mero recreio,
um simples jogo
de palavras
que giravam no carrossel,
pulavam amarelinha,
brincavam de pega-pega,
encaixavam-se como lego,
cantavam cantigas de roda,
ah...
pobres palavras...
que são vistas
e lidas
mas não entendidas,
como se fossem
mudas,
como se não fossem
palavras,
como se não houvesse
nada a dizer,
como se fizessem parte
de outra convenção,
de comunicação,
ou expressassem
a mais primitiva forma
de interação
humana...
vão-se,
incompreendidas,
frustradas...
frustradas porque
descomplicaram-se,
simplificaram-se,
abriram mão
dos termos técnicos,
do exibicionismo
verbal,
despiram-se
da capa intelectual,
para tornarem-se
compreensíveis
até mesmo
aos que estão
no mais baixo nível
da escala
sócio-humano-cultural.
Mas, fazer o quê...
seres humanos são complicados,
porque interessam-se,
somente,
ou quase sempre,
pelo complicado.
O simples não interessa,
porque, aparentemente,
não acrescenta nada...
passa-se desapercebido,
e não é intencional,
do homem,
percebe-se...
creio ser automático
ignorar os dados simples,
talvez seja regra
do programa
que já vem gravado
de fábrica,
ou seja,
na rom,
ou read-only memory,
ou memória somente de leitura:
"não perca tempo com o básico",
ou "ignore o básico",
ou "invista no complexo para
desvendar os mecanismos do universo",
ou "não pense fácil, não deixe-se
deslumbrar pelo simples, enfim,
sua toupeira, não atrase
a evolução dos conhecimentos
humanos, globais, universais"
Digo memória de fábrica,
porque, acredito, sim,
que haja,
uma pré-programação,
ainda que básica,
visto que o homem
novo,
novíssimo,
falo do recém-nascido,
quando livre
da placenta,
e sem (aparentemente),
nenhuma consciência,
sem que alguém lhe ensine,
após sorver e expirar
o primeiro ar,
de olhos fechados,
já busca, com a boca,
onde está o bico
do seio,
sua nova fonte
de alimentos, e
por conseqüência,
de vida.
A ciência chama isso
de instinto,
e eu chamo de
um
entre tantos
outros milagres
de Deus
que estão por aí,
para quem queira
ou não queira
ver...
Mas, pobre de mim,
estou péssimo...
não adiantou o chá
medicinal
como terapia alternativa
para tentar acalmar-me...
não bastou o remédio
para controlar a depressão
e nem o tarja preta,
em conjunto,
para evitar o pânico
e ansiedade:
era necessário algo
para conseguir
controlar
o surto de violência
tão inconveniente
que faz com que desejemos
que nada ou ninguém
cruze nosso caminho
quando brigamos
com vozes
e imagens
que não existem,
com pessoas
que não estão
diante de nós,
e nesta hora,
a mente treme
de medo,
pois inspiramos terror
até mesmo
aos nossos pensamentos,
mas... não encontrei as pessoas
objetos do meu delírio,
e, sozinho,
no meu abrigo temporário (emprestado),
consegui não explodir o ódio
através de um soco
no móvel, que jazia,
imóvel,
diante de mim,
frio, gelado, de medo...:
um refrigerador, duplex, branco, bi-volt, até bonito...
e consegui, numa fração de segundo,
desviar o soco, mas lançar,
com força, um molho de chaves,
que trazia na mão,
contra o pobre violão
que não pode fugir.
Coitado...
sem capa,
o ventre exposto,
pendurado por um barbante,
na parede,
como um condenado,
esperando ser metralhado,
e foi...
se algum time de baseball
descobrir-me,
nascerá
um grande arremessador:
trincou a madeira
do tampo,
ficaram marcas
que jamais sumirão.
Com um pequeno esforço
da mão
a madeira voltou
ao lugar,
mas ficará, na madeira,
a cicatriz
que fará, sempre,
lembrar-me
da fúria irracional.
Pobre violão...
amigo, companheiro de calabouço,
outra forma de extravasar,
além das palavras
escritas,
as angustias que sinto.
Não lembro-me do autor,
e não estou com paciência para pesquisar,
ainda que com poucos cliques
conseguiria o(s) nome(s),
mas, lembro-me
que um dia li
a letra de um belo trecho
de poema
que era cantado pelos antigos,
referindo-se ao instrumento
violão:
"De tanto roçar meu peito
Tens hoje o timbre perfeito
Da voz do meu coração".
Ah...
pobre amigo violão...
está lá, no seu lugar...
observando-me, terno,
como se fosse-lhe
o mais fiel dos amigos,
fita-me
como um cãozinho leal,
atento,
a espera de um simples gesto
para demonstrar-me afeto,
mas... não...
não irei a ele, agora,
tenho vergonha:
vergonha de mim mesmo.
Diante dele,
sinto-me indigno,
demorará alguns dias
até que venha a coragem
de dedilhar suas cordas.
Que pena...
O ódio infundado derreteu meu fígado,
a bíles fundiu-se as palavras
que, tão ácidas, corrosivas,
radioativas,
derretem o teclado,
a mesa, o computador,
e, talvez,
as amizades...
e vejo-me, aqui,
sem coragem
para nada,
sem a coragem,
ao menos, momentânea,
para explicar
ou tentar explicar
o porquê
ou o porquê dos porquês,
como já me comprometi...
sem a coragem necessária,
para fazer revisões,
como sempre fiz,
em cada texto que escrevi,
aplicando estas malditas
regras ortográficas-gramaticais
de "porque", "por que" e "porquê",
enfim,
não entendo o porquê
de tantos porquês
não se resumirem num único porque...
e todas as demais,
regras,
que,
se,
num momento,
são uma terapia,
e faz-se por prazer,
todavia, nesta hora
são um fardo,
um peso,
doem-me demais,
por já não estarem,
ou não entrarem,
mais,
nos restos mortais
do meu
cérebro,
mas...
por favor,
voltem...
vou tomar outro chá...
talvez amanhã
esteja melhor...
Pelo amor de Deus:
não me abandonem,
desculpem-me pelo texto,
mas não o apagarei,
fará parte do manuscrito,
a ser encontrado
no meu pós-morte,
o qual será lido,
e o mundo todo saberá,
que houve um homem na terra
que tinha muito a dizer,
mas,
que,
enquanto vivo,
não falou absolutamente
nada,
mas que, após sua morte,
através dos seus escritos,
fez muito, muito,
barulho
mas não falou,
absolutamente,
porcaria nenhuma...
...
fui
...
..
.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Bipolar ou Multipolar...?

O termo bipolar foi adotado pela medicina para rotular um mal conhecido como psicose maníaco depressiva, uma doença do cérebro. A nova denominação, sem dúvida, ficou muito mais bonita, porém, acarreta um problema: bipolar é um termo extremamente abrangente, para definir opostos, contrastes, pares, tanto que, antes mesmo de utilizar-se o termo "bipolar", um derivado desta palavra já era largamente utilizado, pela sua facilidade de assimilação: "bipolarização".

Utilizaram-na muito (a palavra) no período histórico conhecido como guerra fria em frases do tipo "bipolarização do mundo" para ilustrar a divisão do mundo em dois blocos: capitalista e socialista, ou seja, dois pólos. Podemos dizer sem medo de errar que um imã é bipolar, pois apresenta dois pólos: positivo e negativo. Mesmo sem guerra fria o mundo continua sendo bipolar: pólo norte e pólo sul. Até mesmo o cérebro, doente ou saudável, apresenta dois pólos: direito e esquerdo, criativo e analítico. Neste sentido, somos todos bipolares? É lógico que somos! corpo físico e abstrato, carne e espírito. Computadores são bipolares: hardware e software. Bom, bipolar encaixa-se em tudo, até numa receita de bolo, acredito. É uma palavra, talvez, tão indefinida (ou definida demais...), que por isso mesmo utiliza-se facilmente para definir qualquer coisa: tudo que tiver um par, um oposto, ou absolutamente qualquer motivo ou desculpa que encontrarmos para utilizá-la. Nada escapa, olhe para os lados, com cuidado, existe uma conspiração: tudo que te cerca é bipolar! (olhei agora para meu celular, sempre vi-o inocente mas acabei de desmascará-lo: o infeliz é bipolar... e sou participante disto, acreditam??? ao carregar ou não sua bateria, eu mesmo defino seus dois pólos: carregado ou descarregado (bateria) e através da tecla on/off defino os pólos ligado ou desligado...)

Bom, entendendo-se desta maneira, o termo bipolar é um fenômeno único na nossa linguagem pelo que citei no texto acima, por ser utilizado como um "coringa verbal" para rotular qualquer comportamento, por mais comum ou absurdo que seja.

Uma palavra, para ter seu sentido alterado precisa de décadas e décadas, atravessar gerações e gerações, mas (o que direi a seguir, acontece com apenas uma palavra, entre milhares) a palavra bipolar, vejam, nasceu tão abrangente no seu sentido que deveria deixar de ser "bi" para ser "multi". A intenção da palavra até que foi boa, quis ajudar a tudo e a todos, quis explicar toda e qualquer coisa, e, por isso mesmo, mal nasceu e não suportou a carga, acabou explodindo (coitada), querendo explicar tudo, mas na verdade não explicando nada...

Bom, agora para falar sobre bipolar, ou o que deveria ser a bipolaridade, como doença, dentro dos termos médicos, creio que ninguém conseguirá, realmente explicar com palavras, o que é ser bipolar. Mas quem quiser "googar" ...
(viva a capacidade criativa verbal social, eis aí, logo acima, a palavra que surgiu da necessidade ou do mero comodismo, da preguiça de folhear pesados e burocráticos dicionários, pois, como diriam os poetas do agreste, heróis da poesia popular:

"se nóis num sabi
nóis invênta,
nóis só num fica
sem si ixpressá,
fais parti
da nossa
capacidade
di si comunicá!")

mas voltemos ao assunto: quem quiser "googar" o termo bipolar ou bipolaridade, entre tantos sites e blogs, verá que existe, atualmente, um desconforto tanto entre médicos como pacientes psiquiátricos, ou mesmo dos que enfrentam chiliques daqueles que justificam-se dizendo: "desculpe-me, é que sou bipolar"... e o desconforto é, justamente, pela perda da definição daquele que deveria ser um termo médico... mas... sinceramente? Não vejo problema nenhum que os jovens e adultos, enfim, a nossa sociedade como um todo, tomem para si essa palavra até bonita, "bipolar", porque ela é moderna, legal, cool, encaixa-se perfeitamente em qualquer assunto e conversa dos nossos círculos sociais, e não explica nada, mas pelo menos ilustra tão bem, as nossas dualidades, e também os atos racionais e irracionais que surgem conforme a razão, a falta dela, ou até mesmo pela simples conveniência do momento, em que podemos ter atitudes ambíguas. O melhor, mesmo, é deixar o termo bipolar como domínio público para esta juventude bonita. Se encaixará, perfeitamente, ao convívio deles (jovens), pois bipolar é uma palavra também bonita, tanto quanto eles. Fiquem, então, os belos com os belos, e que os psiquiatras utilizem termos e nomes horríveis, como sempre fizeram, para essas doenças mentais que também são horríveis, e no final vai dar tudo certo. Bye.

(Obs: Esse texto foi criado apenas para uma finalidade estética, para preencher um espaço em branco na coluna vertical deste blog, um vazio que incomodava, e surgiu sem pretensões, porém, falou bonito, e, por isso, como prêmio, está sendo replicado, agora, na forma de um post. Fui).

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O diagnóstico do rato: O porquê dos porquês - Parte 1

No post anterior referente a saga do rato de laboratório, que se encontra no link
    
me comprometi a voltar e explicar o porquê dos porquês.
  
A intenção inicial era explicar os três pontos do diagnóstico em apenas um post, mas, para delimitar confortavelmente cada um dos porquês, ainda que os três estão interligados, julguei melhor criar três novos posts, um para cada explicação.
  
Bom, como sou adepto do princípio de que o melhor ponto para iniciar-se uma conversa é justamente, e sempre, pelo início, comecemos, então, pelo começo:
  
Este é o resumo da aplicação do item 1 (conforme o texto do post anterior):
  
1. Ignore tudo que ela falou durante a crise de pânico.
  
"Ao voltar para casa, entre com uma expressão normal no rosto, como se não tivessem discutido ou brigado no dia anterior, e depois de alguns minutos, olhando com uma expressão normal e num tom de voz calmo e indiferente, pergunte alguma coisa banal, do tipo "Aquelas bolachinhas de leite acabaram ou sobraram algumas?". Após ela responder normalmente, esta ou alguma outra pergunta banal, feita depois de algum tempo, continue agindo como se não tivessem brigado em nenhum momento, e, sem encará-la diretamente, demonstre na expressão do rosto que não existem lembranças do que conversaram no dia anterior".
  
Bom, funcionou, maravilha. Mas... porquê funcionou??? Vamos lá...
  
Uma pessoa em estado de pânico não consegue refrear seus medos e nem ao menos entender expressões ou intenções alheias, por melhores que sejam. Não vale, em hipótese alguma, querer argumentar ou fazer uma pessoa em pânico entender alguma coisa. Você pode sorrir para quem está em pânico, abraçar, explicar-lhe suas razões, falar num tom suave e açucarado, dramatizar, oferecer brindes, mostrar slides, cantar parabéns a você, dar uma caixa de bombons e um ursinho de pelúcia, tudo com a melhor intenção do mundo, mas não conseguirá nenhum resultado positivo, pois existe um problema crucial que lhe impedirá de alcançar seu objetivo. Digo isto porque tudo o que uma pessoa normal faz para tentar controlar alguém que está em estado de pânico se resume em: tentar fazê-lo raciocinar, voltar a pensar corretamente, certo? E todo mundo sabe disso, que é necessário redirecionar a forma de pensar do doente mental, e... bom... desculpem-me... estou batendo no óbvio... porque, quem não sabe ??? Qualquer pessoa deste mundo, mesmo com um mínimo de inteligência, sabe que para trazer alguém de volta à realidade basta fazê-lo(a) pensar corretamente, e todo nós temos uma receita para isso, seja uma receita caseira ou acadêmica, que se baseia em técnicas de concentração, de meditação zen, ou força de vontade, ou auto-conhecimento, etc., etc., enfim, tudo que aprendeu-se lendo livros de auto-ajuda, ou qualquer livro, curso, palestra ou conselho que propõem-se a desvendar a psique humana, ou mesmo naquele cursinho de primeiros socorros que foi ministrado aos funcionários da sua empresa, ou, até mesmo, sem base nenhuma, simplesmente aproveitando-se da oportunidade para satisfazer seu próprio ego, realizando um desejo oculto, como diria Freud, reprimido desde a infância (coitado do Freud, ele não tem nada a ver com o que estou escrevendo...) de ser reconhecido como um ser elevado com poderes sobrenaturais que consegue consertar mentes, entortar garfos, desentupir pias e exterminar pragas de piolhos e carrapatos... bom, mas, independente do método, o importante é conseguir, através de argumentações sábias e precisas, fazer o doente pensar com clareza, novamente, Correto? Bom, te peguei... é aqui que mora o problema: PENSAR. O que o doente mental bipolar mais deseja na vida, neste momento, e é o que está mais distante dele, é justamente PENSAR. Ele já visualiza uma seqüência de desgraças diante de si simplesmente porque os impulsos agressivos vem e ele não consegue refreá-los. Ele sabe que está sendo altamente destrutivo, sem medir conseqüências, sem preservar posses, ou bens, ou emprego, ou relacionamentos, e nem a si mesmo.
  
E a cada (falsa) agressão que sofre, sente descargas elétricas e/ou hormonais no seu corpo, que inflam o cérebro numa fração de segundo, como se todo o sangue do corpo quisesse morar no cérebro, e descarrega através de palavras as suas neuroses violentas, e ele está isolado dentro de si, perdido em si, é verdade, mas, escute isso, por favor: ainda que pareça que  expressa seus verdadeiros sentimentos e pansamentos, ele não vê-se como o ser raivoso que pisoteia os incautos que atravessam seu caminho, ele não tem tempo para concordar ou discordar com as palavras que profere (e fere), porque no mesmo tempo em que explode sua violência, está procurando dentro de si os controles, os fios, os comandos que lhe devolvam a autonomia do corpo, e este esforço é tão grande que só consegue minar ainda mais seu estado caótico e elevá-lo a picos de maior descontrole e violência. Mas, veja que interessante, dentro do(a) violento(a) existe uma consciência paralela que conversa alto consigo mesmo(a), dizendo o que, na verdade, gostaria de estar falando ao seu interlocutor: por favor...! Para de falar...! Me ajuda...! Apenas se cale...! Meu Deus...! Eu não consigo parar...! Aonde está o meu freio...
  
Bom, eu falei que, nesta hora não valem argumentações nenhuma, correto? Que não vale tentar fazer o doente mental em pânico raciocinar normalmente, certo? E sabe porque?
  
Agora, uma pausa. Respire um pouco... outra pausa... agora vamos: na verdade, no que se refere a este primeiro item do diagnóstico do rato de laboratório, este é o porquê do porquê do porquê do porquê do porquê do porquê do porquê do porquê do porquê do porquê do porquê do porquê do porquê.
  
Isso já foi falado, discutido, ensinado, doutrinado, apregoado aos quatro cantos da web e do mundo, mas parece-se um detalhe tão insignificante que aparentemente nem merece atenção, porém, esta é a base para qualquer terapia a ser aplicada em pessoas durante crises de depressão profunda e de pânico: depressão e pânico de bipolares são diferentes da depressão e pânico clássicos, se é que podemos chamá-los assim.
  
Bom, como isso já foi tão bem apregoado e mesmo assim tão facilmente esquecido e/ou ignorado, acredito não ter problema nenhum repetir novamente: depressão e pânico de bipolares são diferentes da depressão e pânico clássicos.
  
E qual a diferença entre uma coisa e outra? (calma, calma, não me apresse, eu nem te traria até este ponto se não houvesse a intenção de explanar estas diferenças, não me olhe com este olhar de cobrança por que já estou começando a sentir umas descargas elétricas na cabeça...bom, vamos lá...)
     
O estopim da depressão clássica é:
     
- Sensação de perda, de separação, de solidão, de frustração, uma angústia proveniente de um fato, ou seja, um fato angustiante ocorreu e esta sensação de angustia prolonga-se por um bom tempo. Esta angustia persistente é, por si, o estado de depressão clássica.
     
O estopim da depressão bipolar é:
     
- O paciente bipolar está feliz da vida, normal, rindo bastante, produtivo, cheio de projetos, e de repente, tendo percebido ou não, ocorre uma reação no seu cérebro, uma alteração química, e o cérebro simplesmente para de funcionar normalmente, e, após alguns momentos de confusão mental crescente, e de problemas de coordenação motora, não consegue mais pensar, ou melhor, pensa o que quer, vai solto que é uma maravilha, e o coitado do proprietário do corpo sente-se como aquele cidadão que vai passear no sábado no shopping Center e vai todo bonito, arrumadinho, mas não tem nenhuma moeda no bolso para colocar crédito nas máquinas de diversões eletrônicas, então fica fingindo que tá dirigindo o carrinho de fórmula um, mas o que ocorre na tela é só a demonstração do jogo, do programa, e o carrinho, na verdade, vai para onde quer, independente da bela encenação daquele que gira freneticamente o volante, fingindo que tem o controle do carrinho (mas não tem, absolutamente, controle nenhum...)
     
Antes de continuar: comecei falando de pânico e terminei falando de depressão, não é mesmo? Explico: o meu foco aqui são os bipolares, e raramente a depressão de um bipolar não termina em pânico, em escala maior ou menor. A própria sensação de perda de controle da mente, e, por conseqüência, do corpo, já desencadeia a depressão, e, após alguns momentos, junta-se à depressão o medo de nunca mais voltar ao estado da normalidade, e isto já gera o pânico ou começo do pânico. Resumindo, a simples alteração química do cérebro, sem nenhuma ajuda exterior, tem o poder de iniciar os processos de depressão e pânico, sem que haja um motivo real para isto. Agora, é lógico, se no contexto do momento atual em que vive o doente mental existe um motivo que possa elevar até mesmo uma pessoa com saúde mental plena a um estado de angustia extrema, então, neste caso, a depressão e o pânico do bipolar são elevados ao estado da perfeição, ao estado de arte pura, suprema.
  
Agora, para me redimir (não quero ser injusto), peço perdão a todos, acadêmicos ou não, que utilizam métodos que visam "calibrar" os pensamentos daqueles que estão atravessando estados de depressão ou pânico: a forma como me expressei anteriormente pode ter parecido irônica, sarcástica, mas, na verdade, todas as terapias que trabalham a nível de direcionar pensamento são válidas, com certeza, mas apenas para os que estão sob o estado de depressão ou pânico clássicos, e não bipolares. Para explicar o porquê, tenho que voltar ao porquê do porquê: deprimidos clássicos PENSAM; deprimidos bipolares NÃO PENSAM. Deprimidos clássicos podem mudar o foco de pensamento, se forem ajudados neste sentido. Agora, se você quiser torturar um bipolar durante uma crise, a coisa mais cruel que pode fazer é olhar-lhe dentro dos olhos e dizer: pense.
  
A aplicação prática deste conceito, no caso real citado no post anterior (no link informado no início deste post) deu certo. Inquestionável. E poderia ter dado errado? Hãm?... o quê???... é... peraí... bem... é.... como explico? É... é... PODERIA!!! EU CONFESSO...!!! PODERIA TER DADO ERRADO, SIM!!!!!!... Na verdade, só deu certo porque ela já estava entrando na fase pós-pânico, que chama-se: culpa e vergonha... não daria certo se ela estivesse no ápice da crise de pânico pois neste momento se ele a ignorasse, até isso, ser ignorada, receberia como uma forma de afronta e ataque (eu nunca falei que era fácil conviver com um bipolar...)
  
Ok, ok, mas, estamos num jogo de xadrez... se esta jogada não desse certo, estaríamos, então, em check? Não haveria um plano de fuga? Um plano B? É elementar, meu caro, que haveria, sim, um plano. Ou uma pequena mudança de estratégia. Mudança? Hum... não, não... não há mudança e nem um segundo plano, na verdade isto também já faz parte da estratégia: Caso seu silêncio e/ou aparente indiferença joguem gasolina na fogueira, aborte o primeiro item e vá direto para o segundo item do diagnóstico do rato:
  
2. Trate-a como um doente, dirija-se a ela da mesma maneira que um médico dirige-se a um paciente.
  
Ora, ora, tratar como doente uma pessoa que está totalmente descontrolada sem correr o risco de ofende-la???
  
Polêmico. Complicado, não? Mas tem uma lógica. Profunda. Tem um porquê. E vou explicar o porquê do porquê no próximo post da trajetória do rato que se chamará:
  
O diagnóstico do rato: O porquê dos porquês - Parte 2
Até lá.
  
Fiquem com Deus.