quarta-feira, 6 de abril de 2011

Medo...

Vontade de dar um grito,
ou calar-se para sempre...
De ficar parado, ou correr,
de não ter existido
ou deixar de existir (morrer)...
Não há razão quando a mente não funciona
(redundante, não?)
Vão extinguindo-se as questões
mesmo sem respostas
Perde-se, neste estágio,
a vontade de saber
O futuro é como o presente:
É coisa nenhuma, é lugar nenhum.
Morreu a curiosidade,
Morreu o sabor,
Morreu o paladar...
parece que a vida está vencida...
Tenho medo de não ter mais medo
Queria encontrar minhas convicções...
Deus está em um lugar firme, inabalável,
não pode ser tocado pela nossa falta de confiança,
até porque, na verdade, confio nele,
o problema é que já não confio em mim mesmo:
não existe equilíbrio para mentes sem governo...
A química disfarça, retarda a degradação,
mas não cura a mente completamente
e não existem, em Deus, obrigações:
já nos deu a vida, o que não é pouco,
a chuva, o ar, os dias e noites
Curar está nele, mas, apenas retardaria a morte
já que seremos vencidos pelo tempo
(este é o destino dos homens)
e seremos ceifados num dia que não sabemos
num instante que mira nossa vida
e corre rápido ao nosso encontro lentamente
(ou rasteja lento ao nosso encontro rapidamente?)
Sei lá...
Mas não sei se quero estar aqui
para assistir o meu fim...
Queria estar enclausurado, escondido...
As amizades que restam vão se extinguindo
e os que insistem na proximidade
são os mesmos que insistirão na distância,
o máximo de distância possível
A vida continua o seu ciclo,
é necessário bom senso:
não caia uma árvore velha, podre, sobre as que ainda estão nascendo
Os que querem morrer deixem em paz os que vão vivendo;
os que querem viver deixem em paz os que vão morrendo.
Eu disse bom senso?
Ora, em estado de pânico não se encontra bom senso
nem princípios, nem razão, nem discernimento,
nem força alguma.
Torna-se um alvo fácil,
condenável pelos que estão em são juízo,
e questionam: onde está sua fé?
e respondo: ela estava aqui agora mesmo...
ela não se extingui, mas parece que as vezes se esconde de mim...
o problema é que, quando a mente está sem governo
(falo de um homem enfermo)
é como um caminhão que perde o freio
descendo a serra do mar...
perde-se o contato com a fé e com tudo o que há...
e por alguns instantes (angustiantes)
não encontramos apoio, nem arrimo, nem chão, nem parede, nem mão...
ah... quem dera, quem dera...
que a mão de Deus me sustente neste instante...
em que viver é tão ou mais difícil que conjugar todos os verbos...
porque sou, neste momento
a pessoa menos confiável para cuidar de mim mesmo...
tenho medo, medo...
medo de perder o medo
de sair da vida pela porta de saída...
medo de perder o medo
de apertar o botão "Desliga"...


Tratado sobre o suicídio

Decididamente: não admiro os enforcados.
Estar ali, pendurado,
instalação surreal,
arte macabra, inusitada,
lentos movimentos
cronometrando o tempo,
emulando pêndulos,
que não estimulam o gênio
de Galileus ou Galileis.
Afora o trabalho que dá;
muitos elementos a considerar:
precisa-se de uma corda,
um banquinho bem alto,
uma viga para amarrar a corda.
Massa corpórea
vezes altura do banquinho
vezes comprimento da corda
vezes pressão atmosférica
vezes força da gravidade
vezes alinhamento de Marte com Saturno
vezes cotação do dólar,
enfim, haverá na física uma fórmula
que possa livrar o suicida
da tortura do último cálculo?
Não, essa forma não me cabe,
imagino o desconforto,
não gosto que nada aperte-me o pescoço,
afrouxo a gravata em dias ensolarados.
Um tiro na cabeça é
outra forma de despedir-se,
os neurônios remanescentes
nem tem tempo de reagir,
mas... descarto,
meu ouvido é sensível,
não quero levar para o além
o cheiro da pólvora
nem o eco do estampido
do último tiro
disparado próximo ao ouvido.
Outros preferem saltar de edifícios
executam evoluções aéreas
até que mergulham
em lagos de granito.
A turba está agitada,
não é todo dia que
assiste-se um suicídio
A área é isolada,
alguém empunha uma faixa
"Por favor, não pule !"
Chegam a imprensa,
os bombeiros,
o celular com a voz de um amigo,
a multidão quase não pisca ou respira,
Oh, meu Deus! Tomara que não pule!
Ele não pode pular!
Mas lá no fundo,
bem no fundo,
torcem pelo pior,
para que possam chegar em casa
e anunciar em primeira mão:
"Eu estava lá, eu vi, foi horrível ! ..."
Eu gostaria de frustrar essa gente
que não torce por nós
que põe holofotes sobre nossas tragédias,
assentam-se em arquibancadas
e assistem nossa vida
como se ela fosse
um picadeiro de circo.
Eu iria lá no fundo do prédio,
onde ninguém estivesse olhando e,
sem nenhum sinal ou aviso,
pularia e diria bem baixinho:
good bye.
Mas ... não ...
não faria isso...
poderia cair sobre um passante, um transeunte.
E... jogar-se na frente de um carro?
Não, também não,
muito deselegante:
estragaria a lataria
do carro alheio
e não ficaria por aqui
para pagar o conserto...
há de considerar-se, ainda,
um atropelado não pode ser tocado
até chegar a perícia,
torna-se um morto inconsequente
ao causar um dos maiores suplícios
do mundo civilizado,
que atinge a humanidade,
os que vivem em megalópoles
ou mesmo micro cidades:
tráfego - de - veículos - interrompido.
Não concordo com isso ou aquilo
A morte deve causar o mínimo
de consequências possíveis
para aqueles que não tem nada a ver com isso
não pode atrapalhar o trânsito
de veículos ou destinos.
E... queimar-se?
Sem chance, só se o cérebro morresse primeiro.
Na verdade, só aplicaria esse método
caso fosse inimigo
de mim mesmo,
incinerar-se não é suicídio, é auto-punição,
o corpo arde enquanto o cérebro,
protegido, blindado,
dentro da caixa craniana,
espera o tempo
interminável em que
cada segundo é eterno
e a mente consciente espera
uma morte tão lenta que
parece que nunca chega...
Então... será melhor afogamento?
Sufocamento?
Tipo morte por asfixia?
Nem pensar, já tô ficando com falta de ar...
Todas as formas são horríveis
tudo causa angustia, dor, sofrimento...
Ah... quem dera...
morrer sem sofrer
morrer sem sentir dor
morrer uma morte suave
morrer com beleza, com poesia...
como estar assim,
sentado sobre o piso de azulejos
a água quente caindo do chuveiro
uma névoa branca de vapor
perfumada, por misturar-se ao cheiro
de sabonetes e shampoos
e um líquido vermelho, viscoso, jorrando
do corte profundo no pulso
diluindo-se na espuma branca
e criando belos degrades
que vão do vermelho-sangue
ao rosa-bebê
esvaindo-se pelo ralo
junto com a água,
junto com a vida,
e essa dormência,
e esse torpor,
e essa tontura,
e essa deliciosa...
vontade de...
dormir...
...
..
.