sábado, 26 de janeiro de 2013

Quem dera...


Quem dera
fosse eu
menos
introspectivo,
que tivesse o dom
de interagir,
de retribuir
tantas visitas,
de dialogar,
ser o bom anfitrião
que abre as portas
da casa,
que recebe com sorriso
e suaves palavras,
mas quase sempre
sou apenas muralha...
intransponível, diria assim:
sou carcereiro de mim,
do tipo que esconde-se
atrás da cortina,
prende a respiração,
não responde
aos chamados,
dos mais insistentes,
interessados,
preocupados,
não atende
o telefone,
ainda que o toque
seja irritante,
tão estridente,
que dói nos ossos
e na alma...
finjo-me ausente,
finjo-me morto,
finjo-me estátua
mas...
Vou organizar-me,
juntar os restos,
descobrir quem sou,
encontrar minha fórmula,
então serei eu,
depois de tanto tempo,
e abrirei a porta,
surgindo sorrindo
com a maior cara lavada,
e dirão:
"Ei... você estava aí...???"
e responderei
"Desculpem-me...,
estava dormindo,
se chamaram-me, não ouvi,
entrem,
esperem-me na sala,
enquanto abro as janelas
e preparo um café
com torradas..."

...
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