sábado, 24 de setembro de 2011

Transformei-me numa barata!!!

Após reler o clássico Metamorfose, de Franz Kafka, vesti a carapaça, quero dizer, a carapuça. O antigo apresentador J. Silvestre (será que o cara ainda está vivo?) poderia chamar-me para o quadro "Esta é a sua vida" e explanar sobre mim a biografia da barata sem mudar uma vírgula e tudo se encaixaria. Para quem nunca leu o livro, ele conta a história de Gregório, um rapaz normal que mora com sua família. Após acordar de uma noite de sono como todas as outras, olha para si mesmo ainda deitado sobre a cama e descobre que durante o sono transformou-se em uma barata! O livro começa exatamente neste ponto, no day after, descrevendo as consequências físicas e psicológicas desta metamorfose, não apenas para Gregório, mas para todos que dividem o teto com ele. Grande Franz Kafka, ele não tomou partido, não impôs lições de moral, simplesmente discorreu a história expondo de uma maneira extremamente crua o quanto são frágeis os nossos laços sociais e familiares quando deparam-se com situações que fogem da normalidade (ainda que, não vou generalizar, acredito, sim, que toda a regra tem exceção).
      
Acho que todos nós, movidos a psicotrópicos, pacientes psiquiátricos, suicidas em potencial, principalmente os que não vieram doentes do berço, antes tiveram suas vidas, sonhos, trabalho, casamento, enfim, éramos pessoas normais, e hoje somos loucos ou meio loucos (em certo ponto acho que os loucos estão melhores  que os meio loucos, porque são justificados pela sua completa anormalidade, mas o meio louco, ou seja, um bipolar, não age como um normal mas é cobrado pelos atos da sua insanidade, pois intercala períodos de completa lucidez, colocando em dúvida a existência de uma enfermidade real...) , mas na prática, acredito que, aos nossos olhos e aos olhos daqueles que rodeiam-nos, transformamo-nos todos em um belo... (qual é o coletivo de baratas, mesmo...? Peraí, tô abrindo a página do google...) BANDO!!! Isso mesmo, fomos transformados em um belo bando de baratas! (quem quiser mais informações sobre baratas, recomendo este link, é informativo e muito bonito): http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/baratas.htm
  
Bom, para nós que somos baratas, não recomendo a leitura do livro citado neste post, pode ser uma dura experiência para os que já estão deprimidos.
  
Mas, para os familiares de baratas, dá uma lida lá, será muito bom. Vocês vão entender se surgir em nós, um dia, um medo infundado de vassouras e inseticidas... (Aos familiares em geral, fica aqui o meu respeito. O fardo de vocês também é pesado, que Deus vos ajude e dê-lhes muitas forças, sempre...)
      
(Opa, ainda em tempo, resolvi voltar neste post e editá-lo porque acompanhando as estatísticas do blog percebi que alguns acessos a ele foram feitos por pessoas que buscam na internet uma resposta sobre o motivo, o porquê Gregório transformou-se em uma barata. Porém, não há explicação para isto no livro. O autor realmente não preocupou-se em dar a resposta, pois quis focar não o motivo real, mas as consequências que ocorrem quando alguém torna-se, de repente, em algo ou alguém completamente fora dos padrões que a família e a sociedade estão acostumados. A barata é apenas uma alegoria, um símbolo, o que ficou representado no livro é que o "completamente diferente" torna-se um peso inconsequente para si , para sua família e para a sociedade como um todo, carregam-lhe como peso extra e desnecessário, ainda que esforcem-se para não enxergá-lo desta maneira. Tudo resolveria-se caso o "diferente" voltasse ao padrão aceito como normal, mas nem todos os casos de "despadronização" são reversíveis, muito pelo contrário, podem confirmar-se com o tempo como um processo de degradação crescente, por mais que queiram ajudá-lo, ou por mais que ele chore e deseje retornar ao estado anterior. O autor poderia ser mais específico, escolher um perfil, como por exemplo, um viciado em crack ou speed no último estágio do vício, que mora com sua família extremamente conservadora, ou outros diversos perfis que perfeitamente enquadrariam-se no estereótipo de "pessoa completamente fora dos padrões aceitos como normais", mas, ao definir o personagem principal como um inseto, todos os "diferentes" podem espelhar-se no "mocinho" da história. Detalhe, o autor não toma partido sobre as razões de Gregório e nem de sua família, na verdade descreve as dificuldades de ambas as partes diante de uma mudança de rotina tão drástica. Resumindo: o foco do livro não é a causa em si, mas os efeitos psicológicos sobre todos os envolvidos no contexto social e familiar, por isso não saberemos jamais o porquê Gregório transformou-se em um inseto, até porque, se quisermos entender assim, ELE NÃO TRANSFORMOU-SE EM UM INSETO, o inseto é apenas um símbolo).
  
Taí, logo abaixo, o link para baixar o livro. É de domínio público. Fiquem com Deus.


2 comentários:

  1. EU, também estou incluida nos meios loucos!!

    neurose obssesiva compulsiva, ansiedade generalizada, depressão crónica, medos em excesso, medicada com Seroxat, após ter experenciado inúmeros outros e não terem dado resultado, este ao menos me equilibra mimímamente!!

    o que sinto dentro é indescritível, e acredito que só quem realmente vivencia sabe o que realmente custa viver assim!! e acredito tb, plenamente, que os tais psicólogos e psiquiatras nada sabem do que sentimos realmente, por isso não conseguem nos equilibrar (curar)!!

    gostei muito do seu blog, conhecio quando comentou no meu,e sou agora sua seguidora!!

    porque é muito raro encontrar quem realmente sinto como sentimos!

    abraço

    (comento como anónimo porque não consegui comentar com o meu perfil do Google)

    (Analuz)

    é, de facto e por vezes me sinto uma barata, que bastaria pisar para me desfazer em "merda"!

    ResponderExcluir
  2. rsrs.
    Seja bem vinda, Analuz.
    Já tinha notado a sua presença por aqui.
    Volte sempre,
    a casa é sua.

    ResponderExcluir


Comentários estão liberados por tempo indeterminado, pois não terei condições, por algum tempo, de moderá-los (estarei sem internet durante algum tempo então não sei quando exatamente retornarei) por isso comentem a vontade e os comentários serão publicados automaticamente, porém, fica assim, logo que consiga voltar e lê-los, caso haja algo ofensivo ou inadequado, irei deletá-los, ok? (porém, tenho que ser justo: todos que passaram aqui e comentaram ou não, até este momento, só trouxeram alegrias). Ah, sim... ainda em tempo, há um post muito indigesto neste blog, se chama "Será que vale a pena...?", este post é tão horrível que, até este presente momento, só mesmo eu tive coragem de comentá-lo, por isso, para promover aquele texto (poema????) horrendo, os heróis (que Deus lhes proteja) que conseguirem comentá-lo concorrerão a uma caixa vazia do meu remédio faixa-preta, com uma dedicatória e meu autógrafo. Fiquem com Deus, assim que possível, retornarei. Bye.