quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A lente

Mudança de conceito,
de pensamento,
não sei se, permanente
mas, pelo menos,
no momento
Quantas vezes
pensamos que sabemos
mas somos enganados
por nós mesmos
e descobrimos
que nenhuma luz havia
ou (assumo), havia
mas não era ela
quem nos regia:
éramos regidos pelo medo
O medo é uma lente
não do olho,
é uma lente da mente,
que não aguça a visão
Lente que atrapalha,
exibe outra película
muda, deturpa, engana,
enche-nos de razão
sendo que ela própria
roubou-nos o discernimento
Confunde interlocutores
altera o sinal
muda o sentido das palavras,
das expressões, dos rostos,
e vemos tudo e todos como parte
da grande conspiração
universal contra nós
e respiramos com cuidado
porque até o ar é suspeito
de querer envenenar-nos
ao mandado de vespas
prateadas
que levam-se
ou são levadas
em bicos de gaivotas
à esconderijos sobre rochedos.
Sob ataque, um simples gato
por mais manso e dócil
que seja,
quantos estragos fará
não reconhecerá a mão que o afaga
nem a mão que o alimenta
Ensandecido, soltará o seu grito
exporá suas garras
e saltará para o tudo ou nada
vendo sem ver,
apenas instinto
de viver, sobreviver
adrenalina animal
acertando a tudo e a todos
que possa acertar
passou-se o momento
tenso
retrai as garras
como uma espada que volta
a bainha, nas costas
de um samurai.
Não há do que envergonhar-se, o gato
lambe as garras e fica imóvel,
(aparentemente) desligado,
sob o sol
Parece não ter consciência
dos perigos que enfrenta
(e vence) e nem comemora
parece-lhe normal
vencer
um inimigo real
Mas cubro-me a cabeça
escondo-me, de vergonha
Quem dera eu fosse
ao menos quixotesco
enfrentasse moinhos, barrancos
estradas e acostamentos,
mas não...
invisto furioso contra pessoas!
contra sentimentos
contra boas-intenções
criando rusgas, mágoas
fronteiras, abismos
feridas que não cicatrizarão
lançando sobre mim mesmo
a alcunha de
o "não vale a pena" ou
o "perda de tempo"
destruindo relacionamentos
dificultando a socialização
lançando-me a margem
da sociedade
sem ser criminoso
mas por ser
este o lugar
natural
onde vivem os ratos,
as baratas, o leproso...
sou uma sombra,
uma fachada profissional
um programador
que já não programa
um profissional excluído
do círculo social
um profissional marcado:
é inteligente mas "problemático"...
que tem, como abrigo, um quarto emprestado
e que ganha o pão de favor
sem médicos, sem remédios,
sem acompanhamento,
Aproveitando uma chance
de ser autônomo
Eis aqui o espaço emprestado
desenvolva o seu projeto
o seu programa
e viva por conta.
Mas, isso é aproveitar uma chance?
O cérebro já não programa
ele esconde, atrás do projeto,
na tela do computador,
a janela de um editor
em que, no tempo que deveria
estar trabalhando
só consigo escrever
este poema da dor...
Sou, eu mesmo, tudo isso
e tudo aqui é nada:
sou o resto de mim mesmo.
Que vá ficando tudo isso
como um testemunho
uma recordação
uma receita
uma parte do que fui
ou pelo menos daquilo que quis ser...
Não é a primeira vez que vim aqui
(parece-me que este poço
está cada vez mais profundo...)
espero que deste e
de tantos outros (próximos)
poços (que virão ou possam vir)
eu venha a sobreviver
Mas será meu consolo se
no dia em que eu morrer
Alguém,
ainda que, um só que seja,
ler os meus escritos e dizer:
"Aqui jaz um homem que era poeta,
que acreditava muito em Deus,
e nunca abriu mão de sua fé".
Boa noite.

3 comentários:

  1. Caramba... amigo !!

    uma coisa te garanto, poeta és e dos grandes! e sabes uma coisa, os poetas que sentem dor na alma são aqueles que mais profundos textos escrevem. e tu, sem lugar a dúvidas és um deles.

    sabes, eu não tenho transtorno bipolar (acho) apesar de estar em baixo de rastos e por minutos mudar para um estado de esperança, alegria, e minutos depois voltar para o poço outra vez,
    tenho neurose obsessiva compulsiva, ou transtorno, como tu dizes, ansiedade generalizada, e muitos mais "adas"!!

    desde pequena que sinto assim, e paranóias muitas, mas cá estou, vivendo comigo mesma (que é o que custa mais)mas entendendo que isso faz parte do meu percurso espiritual.

    tenho aprendido muito acerca de Deus, não o Deus que os impõem, de barbas brancas sentado lá em cima, a cobrar o que fizemos, e a mandar-nos para o inferno, purgatório e céu se formos bons???!!!

    tenho conciência plena que se não tivesse passado até ora pelo que tenho sentido não teria seguido essa busca de mim mesma e Deus, e seria mais !UM! ou !UMA!, a viver a vida sem questionamentos e indagações.

    dói muito cá dentro, dias, meses, anos, sentindo o mesmo, mas eu sou assim e só tenho que aceitar isso como parte de mim!!

    haaa, e a não esqueçer... alcunhas todos temos, e se não gostam de nós, pena deles, são seres sem dor e sentimentos profundos como nós, e isso só deveria provocarnos pena deles, pois não sabem o que é sentir tão forte como sentimos e o forte que somos aguentando isso!!


    tenho um blog em que escrevo tudo que guardo na alma e não transmito aos que me rodeiam, se quiseres vai lá ler um pouco (só se quiseres)http://analuz-oquecalonaalma.blogspot.com/

    força e procura dentro de ti a ti mesmo, e "caga" para os outros, só tu vales a pena para ti mesmo,


    abraço

    ResponderExcluir
  2. Analuz, pela sua forma de construir as frases, verifiquei o seu perfil para confirmar a sua nacionalidade. E digo, amo a minha cultura, e passaria aqui algum tempo citando os grandes poetas deste lado de cá, do mar, que um dia foi tocado pelos grandes heróis que vieram em naus, tendo aqui aportado. Mas te digo com toda sinceridade, que pela sua expressão, por ti mesma, pela sua sinceridade, honra-me quando estás aqui. Mas faz-se, também, uma grande honra, aliás, uma honra imensa,interagir com alguém que é da mesma terra de Camões, Pessoa e Saramago. Fica com Deus.

    ResponderExcluir
  3. Ah, sim, Analuz, estou aqui só para completar o que esqueci de dizer: te vi imensamente poeta no comentário que acabou de escrever...

    ResponderExcluir


Comentários estão liberados por tempo indeterminado, pois não terei condições, por algum tempo, de moderá-los (estarei sem internet durante algum tempo então não sei quando exatamente retornarei) por isso comentem a vontade e os comentários serão publicados automaticamente, porém, fica assim, logo que consiga voltar e lê-los, caso haja algo ofensivo ou inadequado, irei deletá-los, ok? (porém, tenho que ser justo: todos que passaram aqui e comentaram ou não, até este momento, só trouxeram alegrias). Ah, sim... ainda em tempo, há um post muito indigesto neste blog, se chama "Será que vale a pena...?", este post é tão horrível que, até este presente momento, só mesmo eu tive coragem de comentá-lo, por isso, para promover aquele texto (poema????) horrendo, os heróis (que Deus lhes proteja) que conseguirem comentá-lo concorrerão a uma caixa vazia do meu remédio faixa-preta, com uma dedicatória e meu autógrafo. Fiquem com Deus, assim que possível, retornarei. Bye.